A Comissão Parlamentar da Verdade, Memória e Justiça homenageou,
nesta terça, 17, o líder operário Manuel Fiel Filho, sequestrado,
torturado e morto pelos agentes da ditadura militar em janeiro de 1976. O
documentário “Perdão, Mr. Fiel – o operário que derrubou a ditadura
militar no Brasil” foi exibido aos parlamentares em audiência pública
com o diretor do documentário Jorge Oliveira, a viúva de Fiel Filho
Thereza de Lurdes Marins Fiel, a filha Maria Aparecida, a procuradora
federal dos direitos do cidadão Eliana Peres Torelly de Carvalho e o
militante político e jornalista Jarbas da Silva Marques. O trailer do documentário
pode ser assistido no endereço http://www.perdaomisterfiel. com.br/. A deputada Janete Capiberibe (PSB/AP), sequestrada, exilada e anistiada política, é membro da comissão.
Denúncias
– O filme relata, com base em depoimentos, os últimos momentos da vida
de Fiel Filho e o impacto do seu assassinato no comando da ditadura,
pressionando a mobilização popular pela abertura democrática. Poucos
meses antes fora morto nos porões do DOI-CODI o jornalista Vladimir
Herzog. Entre os depoimentos estão os dos ex-presidentes José Sarney,
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva que abordaram,
especialmente, o processo de redemocratização do país. Lula destacou a
importância do sindicalismo para a abertura. As afirmações mais
contundentes são feitas pelo ex-agente do DOI-CODI Marival Chaves.
Segundo ele, os torturadores foram treinados para “chegar ao limite”,
evitando a morte dos torturados, mas reconheceu que dezenas de pessoas
foram mortas em cárceres privados e nas torturas. Ele disse ainda que os
documentos que apareceram no período da abertura democrática são
“história do Brasil” e que aqueles com conteúdo mais grave estão
guardados por agentes do regime, dentre os quais nomina o então coronel
Curió. Segundo ele, o jornalista Vladimir Herzog e o operário Fiel Filho
foram assassinados pelos agentes da ditadura. Os agentes consideravam
as mortes durante as sessões de tortura um “acidente de trabalho”. Cerca
de 670 mil pessoas foram mortas na América Latina durante as ditaduras
civil-militares do Brasil, Argentina e Chile.
Verdade
– Todos os discursos durante a audiência pública reafirmaram o apelo à
presidenta Dilma Rousseff pela instalação da Comissão Nacional da
Verdade, criada pela Lei 12.528/2011, assinada em dezembro de 2011.
“Não
queremos revanchismo. Não queremos sequestrá-los, não queremos
prendê-los. Queremos a dignidade do povo brasileiro”, disse Marques, ao
afirmar que havia “uma política de estado com o objetivo de torturar e
matar”.
“Não
é uma comissão revanchista”, reforçou o deputado Domingos Dutra.
Queremos, pelo menos, que se saiba o que ocorreu. Mas eles [defensores
da ditadura militar] não querem sequer que se saiba. Se na Argentina, no
Chile, [os torturadores] foram condenados, o Brasil não pode ser essa
exceção negativa na América Latina”, completou.
Anistia
– A deputada Luiza Erundina chamou de “manca” a Lei da Anistia, por que
anistiou “estupradores e torturadores”, e defendeu que o Congresso
Nacional pode dar uma nova interpretação à lei, “a mesma que vige em
todo o mundo, a de que não prescrevem os crimes de lesa humanidade”. Ela
lamentou que o projeto de lei 573/2011, com esse objetivo, tenha sido
engavetado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados.
Ela
reafirmou a inconformidade de Maria Aparecida, filha de Fiel Filho, com
a anistia e a indulgência aos torturadores e agentes da ditadura
militar. “Não me conformo. Tem endereço e tem nome. Nome e sobrenome.
Podem se passar os anos que forem, dói do mesmo jeito”, lamentou
Aparecida, referindo-se aos assassinos do pai.
“Loucura”
– Na opinião da coordenadora, a Comissão Parlamentar da Verdade está
recebendo pouco apoio da Presidência da Câmara, “apesar do orçamento
largo e que se gasta à toa”. “Não vamos esperar muita coisa dessa Casa,
desse Congresso, mas esta Casa é a Casa do povo, como aparelho de Estado
não pode ficar só assistindo. Nós vamos continuar. É uma loucura, mas
tem que ser uma loucura de muita gente”, incentivou.
Erundina
afirmou que “pacificar o país é trazer toda a verdade à luz de modo a
fazer justiça” e que o documentário exibido trouxe muitas pistas e que a
Comissão irá atrás delas.
*Brasília, 17/04/2012
Por Sizan Luis Esberci - Gabinete da deputada federal Janete Capiberibe – PSB/AP
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