quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Erundina, 21 anos

     Faz 21 anos que Luiza Erundina foi eleita prefeita de São Paulo. Sua vitória, em 15 de novembro de 1988, muito inusitada, foi marco histórico: "Mulher, nordestina, petista", ela resume a própria biografia tentando refletir sobre o que significa na época.
     A disputa se dava ainda - pela última vez - em turno único. Erundina obteve quase 30% dos votos, ultrapassando na reta final o favorito Paulo Maluf, que se elegeria em 92. Jânio Quadros não compareceu à transmissão do próprio cargo.
     Maria Luiza Fontenelle já havia sido eleita em Fortaleza em 1985 (e em 88 romperia com o PT). Mas São Paulo era a maior cidade da América, o berço de ouro do malufismo. Erundina recorda que assumiu a prefeitura tendo de enfrentar "muita desconfiança e má vontade por parte de empresários", convertidas em "boicote" em vários casos. Mas foi alvo também da hostilidade do próprio PT, que lhe cobrava pontos do programa. "Havia muitas demandas represadas e era difícil convencer o partido de que a gestão municipal não iria dar conta delas".
     Ainda assim, a ex-prefeita hoje avalia que seu legado foi a redefinição das prioridades orçamentárias, deixando de lado grandes obras viárias para enraizar a ação da prefeitura no social e na periferia: ônibus-bibliotecas, creches, mutirões - "o erundinês" é a lingua da organização comunitária e do esquentamento dos movimentos sociais.
     Aquela, diz Erundina, "era uma época dura, de inflação e desemprego, mas também politizada, de muita mobilização, diferente de hoje".
     Erundina não poupa Lula pelo atual engessamento da política: "Ele não tem contribuído para fortalecer os movimentos sociais. Pelo contrário, tirou o seu protagonismo de cooptou o movimento sindical".
     No país de Lula, diante de um governo que tem o PT a seus pés e os empresários gargalhando, soa quase como gafe espanar o pó de uma gestão sempre escanteada pelo partido. Inclusive em termos de conduta moral, o que vingou no PT não foi o bom exemplo de Erundina. 


Fonte. Folha de S. Paulo 17/11/2011
Por. Fernando de Barros e Silva

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