Familiares de mortos e desaparecidos na ditadura militar e
representantes de entidades de direitos humanos querem atrair a atenção
da sociedade para o debate em torno do projeto de lei que cria a Comissão da Verdade,
em tramitação no Congresso. Uma iniciativa nesse sentido ocorreu na
tarde desta sexta-feira, 30, em São Paulo, no vão livre do Masp, na
Avenida Paulista.
Com faixas e panfletos distribuídos às pessoas que passavam por ali,
criticaram a forma como a comissão está sendo realizada – sem a
possibilidade de punir os responsáveis por crimes de violações de
direitos humanos, como torturas, mortes e desaparecimentos forçados. O
grupo, com cerca de 80 manifestantes também marchou pela Avenida
Paulista até o gabinete regional da Presidência da República, na esquina
com a Rua Augusta. Ali entregaram à chefe do gabinete, Rosemeyre
Noronha, um manifesto endereçado à presidente Dilma Rousseff.
A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina (PSB)
seguiu à frente da marcha. “Não podemos baixar a guarda”, disse ela. “Se
a comissão for aprovada, é preciso discutir o perfil das pessoas que
vão integrá-la. Temos que fazer pressão social para que ela funcione de
fato como comissão da verdade, da memória e também da justiça.”
Apenas três representantes dos familiares de mortos e desaparecidos
foram recebidos pela chefe do gabinete regional. Entre eles
encontrava-se Crimeia de Almeida, que foi submetida a torturas nos
porões da ditadura e perdeu três familiares na guerrilha do Araguaia.
Ela criticou o fato de Dilma não ter recebido até hoje nenhuma
representação das famílias.
“Não posso aceitar isso: a presidente manda seu ministros para
negociar com generais os rumos da Comissão da Verdade, mas se recusa a
receber uma comissão de representantes de familiares de mortos e
desaparecido s na ditadura militar”, afirmou. “Estamos pedindo uma
audiência desde a posse e até hoje não tivemos resposta.”
Crimeia também criticou o argumento de alguns setores políticos paras
os quais a comissão deve tratar de igual maneira os crimes cometidos
pelos agentes do Estado e os que pegaram em armas para combater o regime
militar. “Os opositores já foram punidos”, disse. “Já foram julgados de
acordo com a antiga Lei de Segurança Nacional, foram condenados e
cumpriram pena, enquanto os torturadores continuam por aí, sem nenhuma
punição. Não se pode tratar os dois lados da mesma maneira.”
O advogado Antonio Funari Filho, presidente da Comissão de Justiça
de Paz, vinculada à Arquidiocese de São Paulo, também participou da
manifestação. “Não se pode por uma pedra sobre os crimes, porque dessa
maneira os problemas nunca acabam”, afirmou. “O sentimento de impunidade
acaba estimulando novos crimes, novas violações de direitos humanos. É
preciso esclarecer tudo o que ocorreu naquela período.”
*Publicado originalmente no Estadão.com.br em 30.setembro.2011
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