Histórias que precisam ser contadas para existirem
Foi
aprovada a Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça da PUC São
Paulo que se chamará, com muito orgulho para nós, Reitora Nadir Gouvêa
Kfouri, primeira mulher eleita reitora não apenas na história desta
Universidade mas de todo o Brasil. Com a criação desta Comissão
institui-se na Universidade,como em vários outros lugares em todo o
Brasil, um espaço plural, suprapartidário de memória e verdade , na
perspectiva de subsidiar a Comissão Nacional da Verdade, contribuindo
para a garantia dos Direitos Humanos e da justiça .
As
comissões da Verdade são mecanismos institucionais de apuração de
abusos e violações de Direitos Humanos com o intuito de desvelar a
verdade histórica, construir a memória para que nunca esqueçamos do que
nos aconteceu neste período,suas resistências e atrocidades; para que se
identifique e se reconheça todos os que participaram destes fatos,
tanto os resistentes que reagiram e sofreram com as violências
praticadas contra eles, como aqueles que direta ou indiretamente
praticaram estas violências,para que se faça justiça. Mais importante,
ainda é que no final de toda esta mobilização possamos ter elementos
para subsidiar e aprimorar as ações do Estado, em especial a poli tica
de Segurança Pública. Para que se consolide no país uma cultura de
valorização da vida e dos direitos humanos e que tais fatos nunca mais
aconteçam.
Gostaria
de ressaltar, também, o papel pedagógico dessas Comissões da Verdade e
de todo esse movimento que vem reafirmando o dever da Universidade de
produzir conhecimento, sobre esses fatos, comprometido com a verdade
histórica para o conhecimento e divulgação de estudos e pesquisas que
contribuam para promover a reflexão sobre politicas publicas no campo da
garantia dos Direitos Humanos,pois esse é um dos papeis mais importante
da Universidade.
Conversando
pela rampa e pelos corredores da nossa Universidade, hoje mais triste,
mais pacífica e mais passiva vamos nos abrindo depois da noticia da
criação da COMISSÃO DA VERDADE e vamos contanto ou recontando nossas
historias.Algumas conhecidas,outras esquecidas e outras que nem foram
ainda contadas. Surgem exclamações:Voce,também lembra? Quando foi? Quem
estava? Você também estava presa?No DOPS?em que ano?Ah! È ! Já tinha até
esquecido.
Lembrei-me,
como os estivesse vendo, cada qual ao seu jeito, dando aulas,
debatendo, atendendo alunos: Octavio Ianni (meu saudoso e querido
orientador), Florestan Fernandes, nosso mestre sempre; Maurício
Tratenberg.tão irreverente e lúcido; madre Cristina. D. Nadir, Heleieth
Safioti e tantas outras e outros que se vivos, aqui, estariam
enfrentando o desafio de reconstruir a nossa história, nesse período tão
difícil e tão forte. Assim, através desses nomes, reverencio a memória
de todos os estudantes, professores e funcionários, queridíssimos
companheiros, que participaram de várias formas na construção do projeto
democrático e resistente da nossa Universidade.
Tempos
de resistência e luta, de historias que precisamos conta-las para que
existam, como diz Lucia Murat. Como passar em frente ao TUCA e não
lembrar D. Paulo, com sua coragem, sua firmeza na defesa dos direitos
dos perseguidos pela ditadura, do acolhimento aos professores e
estudantes cassados e do apoio incondicional aos familiares na busca do
esclarecimento das mortes e desaparecimentos de militantes políticos.
Mas
de que serviria uma Comissão da Verdade que só ficasse na memória do
passado, na glorificação das nossas conquistas de resistências e lutas,
do repúdio àqueles que nos prenderam, mataram, esconderam cadáveres,
destruiram documentos e vidas. Serviria muito pouco se não
enfrentássemos esse passado, com o intuito de fortalecer a ideia de uma
sociedade de homens livres e de uma Universidade que defenda autonomia, a
produção do conhecimento crítico alinhado ao projeto societário de
emancipação humana.
A
criação da Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça Reitora Nadir
Govêa Kfouri da PUC-SP, neste momento politico tem um significado, ao
meu ver, que vai além do esforço coletivo de testemunhar o passado
devendo contribuir para que todos possamos, ao revisitá-lo, resgatar em
cada um de nós um pouco da paixão,do prazer e da alegria de fazer
politica como fazíamos nos anos difíceis da resistência. Reconhecendo
que olhar nosso passado ,com os olhos no presente e a vontade politica
de construir o futuro, é um dever ético.
Rosalina de Santa Cruz Leite
Profa. da Faculdade de Ciências Sociais– curso Serviço Social
Membro da Comissão da Verdade Reitora Nadir Gouvêa Kfouri PUC-SP
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