27/06/2013 - Por: Elisabeth Dereti - Site Liderança PSB na Câmara
Com o objetivo de discutir o significado, a importância e a dimensão das manifestações que vêm acontecendo no País nas últimas semanas, o PSB e a Fundação João Mangabeira (FJM) realizaram nesta quarta-feira (26), em Brasília, o debate "A Voz das Ruas". Com auditório lotado, o evento foi transmitido ao vivo pela TV João Mangabeira.
O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), afirmou que “a onda de manifestações desafia os poderes constituintes, que estão absorvidos por uma política formal que ainda se movimenta no sistema analógico, enquanto a sociedade já está no digital”. Beto lembrou que o povo brasileiro já não se sente representado pela classe política, e que o governo está perdendo o rumo, correndo atrás da inflação.
“Temos que ouvir o recado das ruas e apresentar um discurso novo, um projeto diferente para o País, pois, se não o fizermos, a Direita, com seus valores conservadores, fará”, alertou. Beto citou o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, como sendo o porta-voz desse novo projeto.
O vice-presidente nacional da legenda, Roberto Amaral, concordou com Beto e lembrou também que a Esquerda de 1988 fracassou ao assumir o Poder por, em nome da governabilidade, não haver realizado nenhuma das reformas a que se propôs. “A Esquerda renunciou à luta ideológica. Temos que voltar para as ruas, pois é lá que se faz a luta de classes”, apelou.
O líder socialista manifestou sua satisfação com as mobilizações. “Devemos festejar este rompimento do círculo político”. Amaral destacou que, há muito tempo, vem escrevendo sobre a falência da democracia representativa. “A coalizão na cúpula do Poder não corresponde mais à realidade das ruas”.
Convencido de que o debate ajudará a discutir o que fazer, Amaral afirmou que "ou a Esquerda ocupa as ruas, ao lado dos jovens, ou a direita tomará conta deste espaço".
O primeiro Secretário Nacional do partido e presidente da Fundação, Carlos Siqueira, destacou o fato de que “pela primeira vez, registram-se no Brasil grandes manifestações sem que os partidos políticos ou a sociedade civil organizada estejam por trás dos acontecimentos”. Siqueira reiterou a importância da discussão acerca do significado dos eventos para as instituições. “Precisamos entender este processo legítimo e democrático”, explicou.
Do evento participaram lideranças, parlamentares e militantes do PSB, além de convidados especiais como a diretora do IBOPE, Márcia Cavallari Nunes; o professor de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), Leandro Piquet Carneiro, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da mesma universidade; o sociólogo Jessé José Freire de Souza, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e a deputada Federal, Luiza Erundina (PSB-SP).
INSATISFAÇÃO — A primeira palestrante, Márcia Cavallari Nunes, apresentou dados relativos às últimas três pesquisas realizadas pelo IBOPE sobre as manifestações populares. Foram ouvidos 1.775 internautas constantemente conectados na rede, entre os dias 15 e 17 de junho; 1.008 pessoas da população, nos dias 19 e 20 de junho; e 2.002 manifestantes que protestaram nas ruas em 20 de junho.
Entre a população questionada, 28% declarou estar pessimista ou muito pessimista em relação ao futuro do País. Além disso, 78% dos entrevistados citou a saúde como o principal problema, em todas as cidades de todos os estados ouvidos. No entanto, para 55% a segurança é o maior problema e, para 52%, a educação.
Os estudos revelam que 89% dos manifestantes declararam ter interesse por política, fato que surpreendeu a diretora do IBOPE. No entanto, 83% deles não se sentem representados por nenhum político e 89% não se sentem representados por nenhum partido político. Os dados também mostram que 75% da população é a favor das manifestações, e 30% acredita que as depredações podem ser justificáveis em determinadas situações.
DESIGUALDADE — O segundo palestrante, o sociólogo Jessé José Freire de Souza, citou a desigualdade social como o grande problema a ser enfrentado pela sociedade brasileira. “A distribuição de renda e a desigualdade nunca são colocados em pauta. Em vez disso, sempre se coloca a corrupção como a raiz de todos os problemas brasileiros”, criticou.
Leandro Piquet Carneiro, que falou em seguida, acredita que a segurança pública esteja no centro das mobilizações, pois a violência “atinge diretamente a qualidade de vida da população”. Carneiro lembrou a baixa taxa de indiciamento por homicídio no Brasil, “é um crime praticamente impune”. Ele alertou para os fatores responsáveis pela impunidade, como a sobrecarga da justiça criminal e a falta de articulação entre os serviços de inteligência das polícias.
FRUSTRAÇÃO — Ao analisar a movimentação popular, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) afirmou que “falta aos administradores públicos uma visão metropolitana dos problemas urbanos para resolvê-los de forma competente e criativa”. Ela criticou a ausência de soluções para curto e médio prazo, e considerou que a insatisfação popular, diante desse quadro, seja absolutamente normal. “A violência que temos visto é um desabafo, resultado das frustrações do dia a dia”.
Erundina, que foi prefeita de São Paulo, conhece bem as dificuldades dos paulistanos com o transporte coletivo caro e de má qualidade. “O transporte coletivo é um fator de produção e um insumo básico da economia e da manutenção das cidades”. Por isso, a deputada socialista reiterou a importância da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição, de sua autoria, pela Câmara dos Deputados. A PEC transforma o transporte em direito social do cidadão a ser incluído na Constituição Federal.
Para Erundina, as manifestações mostram também a frustração da população diante do fracasso de um governo que “prometeu fazer justiça social e ser democrático”. A socialista classificou o programa Bolsa Família como politicamente desmobilizador, citando pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) que mostra que o programa seria um dos responsáveis pelo esvaziamento do Programa Agricultura Familiar. “Tirar as pessoas da linha de produção não é construir de cidadania, as famílias não estão evoluindo”.
A deputada também destacou o que considera “indiferença” do Parlamento e do governo em relação aos apelos da população. “É preocupante quando a própria chefe do governo está tão distanciada. Ela sequer tocou na questão do transporte e propôs medidas que já estão caducando no Congresso, pois há mais de uma década já se tinha consciência de que nosso sistema político havia se esvaziado”, falou, referindo-se à proposta de reforma política como uma das soluções para o país.
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