Acervo de fundação italiana sobre a luta por direitos humanos no País será transferido para o Memorial da Anistia
06 de novembro de 2012
ROLDÃO ARRUDA - O Estado de S.Paulo
No período mais duro da ditadura militar, no início da
década de 1970, ocorreu uma significativa mobilização de organizações
internacionais para denunciar violações de direitos humanos no País.
Documentos daquele período foram reunidos por diferentes arquivos, entre
eles o da Fundação Lelio e Lisli Basso, da Itália. Agora estes arquivos
serão digitalizados e transferidos para o Brasil, podendo ser
consultados diretamente por pesquisadores e pessoas interessadas naquele
período histórico.
Isso será possível em decorrência de um acordo firmado pela Comissão
da Anistia, do Ministério da Justiça, e a fundação italiana. Segundo o
presidente da comissão, Paulo Abrão, o acervo será transferido para o
Memorial da Anistia, que está sendo construído em Belo Horizonte.
"A grande relevância dessa iniciativa é reforçar o papel da
resistência no exterior. Com sua mobilização, ela foi capaz de gerar
movimentos que denunciavam as violências, quando aqui no Brasil vigorava
um cenário de censura e silenciamento", disse Abrão ao Estado. "O
material ficará no Memorial da Anistia porque a nossa perspectiva, ali, é
sempre a narrativa das vítimas, com a história da resistência."
O material inclui documentos referentes ao Tribunal Russell 2, 1.º
Congresso Nacional da Comissão Brasileira pela Anistia (realizado em São
Paulo em 1978) e ao Tribunal Permanente dos Povos. Serão digitalizadas
cerca de 70 mil páginas, a maioria delas referente ao período da
ditadura militar.
A Fundação Lelio e Lisli Basso, criada em Roma, em 1973, voltada para
estudos da sociedade contemporânea, deu abrigo a diferentes redes de
solidariedade internacional às vítimas das ditaduras latino-americanas.
Lelio Basso, que foi senador na Itália, também ajudou a criar o
Tribunal Russel 2, que denunciou violações de direitos humanos ocorridas
no Brasil e no Chile. Era uma extensão do Tribunal Russell, que, na
década de 1960, havia denunciado crimes de guerra, especialmente os
casos envolvendo soldados americanos no Vietnã.
O Tribunal Permanente dos Povos foi o sucessor do Tribunal Russel e
até hoje examina casos de violações de direitos humanos e os direitos
dos povos.
O acordo entre a fundação italiana e o Brasil começou a ser discutido
há dois anos. Em março foi assinado um protocolo de intenções e,
finalmente, em outubro, o embaixador brasileiro na Itália, José Viegas,
assinou o contrato em Roma.
"A fundação tinha interesse em remeter o material, com o acervo das
vítimas, incluindo cartas, depoimentos pessoais, para o Memorial da
Anistia", disse Abrão. "Até outubro de 2013 todo o material estará
digitalizado, podendo ficar à disposição de toda a sociedade
brasileira."
Na semana passada, o governo do Uruguai, que também está interessado
no acervo da fundação italiana, consultou o Brasil sobre a possibilidade
de uma parceria. O assunto ainda está sendo estudado.
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