Revista Mulher D´Classe – Reforma
Política
Texto: Liége Rocha
Fortalecimento da democracia no país exige maior participação
das mulheres
A eleição da primeira mulher à Presidência da República, no
Brasil, tem um significado importante para o enfrentamento das desigualdades
ainda presentes no seu cotidiano.
A participação política das mulheres vem num crescendo, desde
a conquista do direito ao voto em 1932, passando pela criação dos primeiros
Conselhos, mecanismos institucionais de direitos da mulher na década de 80, a
criação das Delegacias de Defesa das Mulheres e outros serviços de combate à
violência contra a mulher, pelo registro dos direitos das mulheres e do
princípio da igualdade entre os homens e mulheres na Constituição brasileira de
1988 e, chegando, em 2003, no governo Lula, com a criação da Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).
As mulheres representam 51% da população brasileira, têm um
nível de escolaridade superior ao dos homens e estão próximas de alcançar os
50% da população economicamente ativa, mas ainda recebem salários menores. A
valorização do trabalho é fundamental para as mulheres, que perseguem a
conquista da igualdade no mundo do trabalho, com carteira assinada e salário
igual para trabalho igual, com redução da jornada de trabalho e a implementação
de equipamentos sociais que contribuam para minimizar a dupla jornada de
trabalho.
Após 80 anos da conquista do voto, as mulheres representam a
maioria do colégio eleitoral brasileiro, podendo, portanto, decidir uma
eleição. Na campanha eleitoral de 2010, a questão do aborto foi colocada no
centro dos debates, numa demonstração de como forças fundamentalistas e
conservadoras desviaram o foco da discussão de um programa de governo, negando
o direito de decidir das mulheres e, mais uma vez, criminalizando aquelas que
optaram por interromper a gravidez. A defesa do Estado laico é preponderante
para garantir os direitos das mulheres, com políticas públicas que respeitem os
princípio da universalidade e da equidade e que atendam a população como um
todo.
Espaço de poder
Em agosto de 2007, a II conferência Nacional de Políticas
para as Mulheres, que mobilizou em todo o seu processo cerca de 180 mil
participantes, que elegeram 2.700 delegadas para a assembleia final, aprovou o
II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), que incluiu o eixo
“Participação das Mulheres nos Espaços de Poder e Decisão”, com o objetivo de
“promover e fortalecer a participação igualitária, plural e multirracial das
mulheres nos espaços de poder e decisão”, tendo como uma das metas revisar a
lei de cotas eleitorais.
O II PNPM estimulou a constituição do Fórum Nacional de
Instância de Mulheres de Partidos Políticos e a criação da Comissão Tripartite,
esta última criada através da Portaria n° 15, de 11 de março de 2009, com o
objetivo de discutir, elaborar e encaminhar proposta para a revisão da Lei
9.504/97, que estabelece normas eleitorais.
As mulheres continuam perseguindo a conquista dos espaços de
poder e decisão. As cotas não garantiram uma ampliação significativa do número
de mulheres no parlamento – em 2008, elas representavam apenas 12% nas câmaras
municipais. Nem a campanha que culminou com a eleição de uma mulher para a
Presidência da República mudou o quadro de participação feminina no Congresso
Nacional – as mulheres continuam com as 45 cadeiras da Câmara federal. O
Brasil, segundo a União Interparlamentar (UIP) ao analisar a participação das
mulheres nos parlamentos, ocupa a 142ª colocação, estando apenas à frente da
Colômbia, Haiti e Belize na América Latina.
Com a minirreforma eleitoral (Lei 12.034/2009) aprovada em
2009, as mulheres obtiveram conquistas importantes com a definição de que os
partidos devem destinar 5% do Fundo Partidário para a formação política das mulheres,
assim como 10% do programa partidário deve ser destinado às mulheres. Essa
formulação abre uma porta para a punição dos partidos que não cumprirem com a
legislação, já que a falta de punição sempre foi vista como fator determinante
para o não cumprimento das cotas.
Mulheres e a reforma política
Após toda esta trajetória de lei das cotas e minirreforma
eleitoral, está em curso a discussão da reforma política. Às mulheres interessa
avançar na construção da democracia e esta reforma tem um viés importante neste
aspecto, ao possibilitar mudar o quadro atual do domínio econômico nas
campanhas eleitorais, acabar com o foco da campanha no indivíduo e não no
partido, enfrentar a sub-representação das mulheres, romper com o domínio e
privilégio dos homens nos espaços de poder e decisão.
Para as mulheres, interessa que a reforma política garanta o
financiamento público de campanha, que democratizará a utilização dos recursos
no processo eleitoral, dando chance às mulheres nas suas candidaturas. Outro
aspecto importante é a efetivação das listas pré-ordenadas com alternância de
nomes de mulheres e homens, garantindo assim uma participação mais igualitária,
abrindo caminho para que as mulheres conquistem espaço onde sempre houve o
predomínio masculino.
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