A Tribuna - 27/11/2012
Familiares, amigos e polÃticos se despediram do ex-vereador de Santos e ex-deputado federal Alberto Marcelo Gato, que faleceu na madrugada desta segunda-feira. A morte ocorreu a poucos dias da cerimônia simbólica, na Câmara Federal, de entrega de seu mandato como deputado, cassado em 1976, na ditadura militar. A cerimônia de cremação do corpo do polÃtico foi realizada no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.
Familiares afirmam que um câncer no esôfago foi descoberto recentemente. Ele morreu dormindo em casa e a causa do óbito pode ter sido uma embolia. Gato estava entre os 27 deputados que receberão, no dia 6, o diploma e o broche como sÃmbolos da devolução de seus mandatos, interrompidos pelo Ato Institucional no AI-5 foi um dos instrumentos dos militares para promover a chamada linha dura do regime. FamÃlias de outros 146 deputados que tiveram seus mandatos cassados também participarão da homenagem, articulada pela deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP).
“É, sem dúvida, uma perda lastimável para a polÃtica e para a sindicância do PaÃs. Gato era um lutador e deixa a sua marca em nossa história”, lamenta .Corajoso, ele foi descrito por colegas e companheiros de luta como sÃmbolo da resistência e polÃtico impecável. Foi ele quem projetou Santos como uma das cidades que mais resistiram ao governo militar.
Personagem emblemático na história do MunicÃpio e do PaÃs, iniciou sua caminhada por meio da liderança no Sindicato dos Metalúrgicos. “No ponto de vista polÃtico, eu já me liguei ao velho Partido Comunista Brasileiro, como militante. A tradição de luta sindical em Santos era uma coisa estupenda, fenomenal!”, declarou Gato, em texto autobiográfico do projeto Memórias, do Departamento Intersindical de EstatÃstica e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ele presidiu o órgão entre 1970 e 1972.
Biografia
Nascido em Sertãozinho, interior de São Paulo, em 16 de janeiro de 1941, Alberto Marcelo Gato viveu uma infância humilde, não muito diferente da grande maioria das famÃlias brasileiras no perÃodo.
Após o fim do ginásio, ele foi morar em Ribeirão Preto para cursar QuÃmica Industrial. Trabalhou como radialista na PRA7, Rádio Clube de Ribeirão Preto, para sobreviver. Após alguns estágios, ingressou na Cosipa em maio de 1963. Foi lá que deu inÃcio a sua militância polÃtica. Após o Golpe de 1964 e a intervenção no sindicato, resolveu disputar a diretoria da entidade ao lado de outros estudantes. O grupo venceu a eleição, em 1968.
Gato presidiu o partido na Baixada Santista até 1974. Em 1973, foi eleito vereador em Santos. Renunciou para assumir o cargo de deputado na Câmara Federal, em 1975.
Ai-5
Assinado em 6 de janeiro de 1976 pelo então presidente Ernesto Geisel, com base no Ato Institucional nº 5 (AI-5), o decreto que cassou, por dez anos, os direitos polÃticos do deputado federal Marcelo Gato e do deputado estadual Nelson Fabiano Sobrinho confirmou rumores nos bastidores polÃticos de BrasÃlia.
De acordo com reportagem publicada à época por A Tribuna, o anúncio foi feito pelo ministro Armando Falcão, no Palácio do Planalto. A justificativa foi que o ato era “baseado no interesse da Revolução de 64. Além da notÃcia, nada mais tinha a acrescentar, especialmente por ser ela atinente à segurança nacional”, descreve o texto da página 3 do jornal.
A matéria também coloca a versão de Gato. “Não é em um ano de mandato que um deputado novo pode pretender ter contribuÃdo além do possÃvel para apontar e procurar resolver os problemas nacionais. Acredito que, porém, nenhum dos 100.746 eleitores que votaram em mim tenha motivo de arrependimento. (…)Não perdi, nem perco a esperança de ver o meu Brasil um paÃs grande, superdesenvolvido, mas que seja dos brasileiros e acima de tudo seja justo para todos os seus filhos. Foi por isso que lutei (sic)”.
Anos mais tarde, ele comentou, em sua autobiografia, o motivo da cassação. “O que detonou a minha cassação e de outras pessoas foram as denúncias que fizemos das torturas a presos polÃticos, das perseguições polÃticas, do arrocho salarial, enfim, toda aquela caretice da ditadura que atingia principalmente a classe trabalhadora. Então, perdi o mandato de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e de deputado federal”, finaliza.
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