quinta-feira, 5 de julho de 2012

Seminário sobre Operação Condor se torna um marco na luta contra a ditadura

André Abrahão   
Luiza Erundina discursa durante a abertura do evento

A união de esforços para desvendar uma época negra da política brasileira ganhou um marco importante nesta quarta-feira (4). O Seminário Internacional Operação Condor, que acontece até amanhã, na Câmara dos Deputados, inaugurou seus trabalhos com a presença da deputada e coordenadora da Comissão Parlamentar da Verdade, Memória e Justiça, Luiza Erundina (PSB-SP). O evento servirá para unir mecanismos e articulações no sentido de buscar a verdade sobre a repressão aos opositores de ditaduras sul-americanas e eliminar líderes de esquerda instalados nos seis países do Cone Sul.

Para a socialista, é necessário que o debate não permaneça apenas nos relatórios da Comissão. “É impossível obter a reconciliação nacional com a democracia sem justiça às vítimas da ditadura militar e com uma lei de anistia que beneficia os torturadores. Com influência do governo americano, o Congresso votou essa lei, que precisa ser reinterpretada”, explanou Erundina.

Outro ponto muito discutido na reunião foi a necessidade de contar com a sociedade, que precisa estar sempre vigilante e buscar entender as causas e o funcionamento das ditaduras para evitar que momentos de repressão da ordem democrática voltem a ocorrer. “Essa comissão é uma construção coletiva. Trata-se de uma tarefa suprapartidária para que consigamos romper limites e nos comprometer com os direitos humanos, 24h por dia”, explicou a deputada.

Ela enfatizou que o fato de “trazer a verdade” sobre os crimes cometidos pelo estado e instituições brasileiras incomoda e isso deve se tornar uma arma na busca pela justiça. “Temos que fazer o esforço para mudar essa cultura de violência que existe na sociedade”.

O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, disse que a Operação Condor as ditaduras ocorridas na América Latina foram resultado, entre outros aspectos, de um mundo em meio à Guerra Fria, que visava a desconstrução e o extermínio dos movimentos de esquerda. “As ditaduras no continente latino-americano são resultado do mesmo movimento. Não partir dessa origem, é ignorar que o contexto internacional condiciona o contexto nacional. Precisamos construir fortalezas para evitar que isso ocorra novamente”, argumentou Abrão.

O juiz federal da Argentina, Daniel Rafecas, afirmou que até agora foram identificadas dez mil vítimas da ditadura militar no país, durante a Operação Condor, na década de 60. Ele disse que essas vítimas foram identificadas com a abertura de mil processos contra pessoas que atuaram durante a operação. “Respondem a processos chefes dos centros clandestinos de detenção e chefe das forças armadas, por exemplo. Até agora 250 já foram condenados por crimes graves. Os números são provisórios porque esse processo está em desenvolvimento”, explicou.

Ao que tudo indica, Luiza Erundina não pretende deixar o processo, em busca da justiça, parar no tempo. “Estamos programando outros eventos com significados políticos. Em agosto, promoveremos um grande evento juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil para homenagear os profissionais dessa área que sofreram coma repressão. Vamos devolver simbolicamente os mandatos populares que lhe foram usurpados pela ditadura militar”, encerrou.

O Seminário Internacional sobre a Operação Condor, que contou com a presença dos deputados Luiz Noé (PSB-RS), Janete Capiberibe (PSB-AP) e Sandra Rosado (PSB-RN), continua seus trabalhos nesta quinta-feira (5) abordando aspectos relativos à operação político-militar ocorrida no Brasil, na Argentina, no Paraguai, Uruguai e no Chile na década de 1960.

Confira a programação do evento para esta quinta-feira

“Arquivo do Terror”

A Operação Condor acentuou-se com o golpe militar no Chile que, em setembro de 1973, derrubou o governo socialista de Salvador Allende. Até hoje não se tem uma dimensão exata sobre o número de vítimas da operação. O “arquivo do terror” – quatro toneladas de papéis descobertos no Paraguai, em 1992 – preservou intactos diários, arquivos, fotos, correspondências e a rotina da operação. São mais de 60 mil documentos, totalizando 593 mil páginas microfilmadas pela burocracia da repressão.

Esse arquivo resultou nas seguintes estimativas: 50 mil mortos, 30 mil desaparecidos, 400 mil encarcerados. Já o Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), de Porto Alegre, aponta que investigações oficiais realizadas por comissões independentes chegaram a números menores: 13.960 mortos e desaparecidos políticos no Cone Sul, no período de atuação da Operação Condor.

Rhafael Padilha/Repórter

Um comentário:

  1. Louvo a luta da deputada Luiza Erundina. Que tanto na Comissão da Verdade quanto nas outras comissões de que participa seja sempre aguerrida. Saúde e Sucesso a todos nós.

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