Falar em poder local é
falar em Luiza Erundina de Sousa. Foi fazendo política inicialmente em sua
terra, Campina Grande, na Paraíba, que conseguiu experiência para seguir em
frente politicamente e chegar a ser prefeita de São Paulo, a maior cidade da
América Latina. Ao longo de sua vida sempre se destacou na área social,
principalmente quando foi morar em São Paulo, realizando trabalhos nas favelas
da cidade. Erundina falou ao FÊMEA sobre a importância da experiência política
local para a garantia de políticas públicas e dos direitos das mulheres.
Fêmea – Qual a importância, na sua avaliação, do poder local
para a ascensão política e desenvolvimento da atividade política para as
mulheres?
Luiza Erundina –
Geralmente as mulheres iniciam sua experiência política nas comunidades locais,
através dos movimentos reivindicativos em torno de demandas coletivas.
É aí que elas expressam
e desenvolvem sua capacidade de liderança e descobrem seu papel político na
sociedade.
Frequentemente evoluem
da militância nos movimentos sociais para a militância político partidária ao
tomarem consciência de que precisam conquistar poder para resolver os problemas
e questões pelos quais lutam.
Além disso, descobrem a
militância política como um meio de realização pessoal e como um instrumento a
serviço da coletividade.
Daí decorre sua decisão
de se filiarem a partidos políticos identificados com suas lutas e a se
disporem a concorrer a mandatos eletivos, começando pelo legislativo municipal
que é a instância de poder mais próxima de sua experiência de militância nos
movimentos sociais nos quais constroem sua base de apoio e principal referência
para o desempenho de seu mandato de vereadora.
Um bom desempenho nesse
nível as credencia e as estimula a disputarem cargos de maior poder, como o de
prefeita.
É no município, pois,
que tem crescido a participação política das mulheres no plano institucional.
Fêmea – Como a senhora acha que as mulheres devem atuar no
poder local para conquistar seus direitos?
Luiza Erundina – A
atuação das mulheres, como vistas a conquistar seus direitos no nível do poder
local, deve se dar através dos movimentos organizados em torno de
reivindicações e demandas coletivas.
Além disso, poderão
participar, como representantes de suas comunidades, dos espaços institucionais,
tais como CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE, ASSISTÊNCIA SOCIAL, CONSELHOS TUTELARES
E DE DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE, entre outros.
Fêmea – Na política qual a importância, na sua opinião, do
poder local? Quais os ganhos que uma vereadora ou prefeita podem ter?
Luiza Erundina – O
poder local tem importância decisiva na política, por ensejar o exercício da
cidadania política a todos os cidadãos e cidadãs e viabilizar a participação e
a democracia direta.
Um mandato de vereadora
ou prefeita é um valioso instrumento de luta e de organização do povo, além de
ser uma fatia de poder que, posta a serviço dos interesses populares, constitui
uma possibilidade real de avanço na conquista dos direitos da população
trabalhadora.
Fêmea – Como foi a sua experiência como vereadora e prefeita?
Luiza Erundina – Minha
experiência como vereadora me preparou para conquistar e exercer o mandato de
prefeita, além de ter servido como instrumento de organização dos setores
populares.
O mandato de prefeita,
por sua vez, foi uma extraordinária oportunidade de exercer o poder de forma
feminina, pedagógica, procurando afirmar o papel da mulher como sujeito
político, competente e capaz de mudar os paradigmas masculinos que tem marcado
o exercício do poder em nossa sociedade.
Fêmea – Na sua avaliação as mulheres têm interesse no poder
local? Elas se desenvolvem melhor politicamente sendo vereadora, prefeitas ou
deputadas estaduais?
Luiza Erundina – O
interesse das mulheres pelo poder local vem se manifestando pela participação
crescente de mulheres que se candidatam e conquistam mandatos de vereadora,
prefeitas e deputadas estaduais. Em qualquer desses cargos elas se destacam e
se desenvolvem politicamente.
Há muito ainda a
conquistar, mas estamos avançando!
CFEMEA – Centro Feminista
de Estudos e Assessoria.
Março de 2001
Foto: Agência Câmara