domingo, 17 de junho de 2012

‘Não vou estar confortável no mesmo palanque que Maluf’, diz Erundina


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Fernando Gallo e Julia Duailibi, de O Estado de S. Paulo

A deputada Luiza Erundina (PSB), pré-candidata a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, disse ter sido surpreendida pela aliança com o PP, de Paulo Maluf. “Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência”, afirmou, em entrevista ao Estado neste sábado, 16.

Na última quarta-feira, 13, o Estado noticiou com exclusividade a possibilidade de a deputada aceitar a formação de chapa com o ex-ministro da Educação. A aliança com os petistas deve dar a Haddad cerca de 1min 30s em cada um dos blocos do horário eleitoral na TV, que começa a partir de agosto. “Entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora, não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão”, completou a ex-prefeita, que administrou a cidade pelo PT entre 1989 e 1992.

“Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim, não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf”, afirmou numa referência ao deputado e ex-prefeito, que foi um dos seus maiores adversários políticos na capital. Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Estado: A sra. decidiu tomar um rumo diferente do PT 15 anos atrás. Agora voltam a se juntar. Mudou a sra ou mudou o PT?
Luiza Erundina: Mudamos os dois. Eu nunca me afastei daquilo pelo que eu ajudei a construir no PT, a militar, a construir as tarefas políticas que o PT me atribuiu durante todo aquele tempo. A partir daí é que mudei de partido. Não foi uma decisão fácil. Foi traumática para mim. Mas naquele momento minha experiência no PT havia se esgotado.

Estado: Por que?
Luiza Erundina: Eu entendia que minha visão político-partidária, minha prática política, minha relação com o partido durante o governo foi uma relação difícil, as experiências de campanha também foram muito difíceis. Os processos se esgotam e a gente tem que ter coragem para não… Em um determinado momento me coloquei a seguinte hipótese: ou eu saio da política, embora filiada ao PT, mas se militância, ou para continuar a fazer política com o nível de engajamento, de participação e militância era melhor eu ir para outro espaço.

Estado: Mas por que o realinhamento com o PT?
Luiza Erundina: Nem fui eu. Foi uma decisão partidária. Lógico que como liderança partidária isso passa por mim. Eu sou ouvida. A direção me consultou e nós fizemos uma discussão política mais aprofundada. Avaliamos que no interesse maior do projeto que estamos construindo no País desde a primeira vitória de Lula, a vitória da Dilma, tem sido num alinhamento estratégico com o PT.

Estado: Por que vale em 2012 e não valeu em 2004?
Luiza Erundina: Eu era uma candidata potencial naquele momento. Havia condições objetivas para que eu pudesse disputar o cargo de prefeita. No segundo turno fui de cabeça e procurei dar a minha contribuição.

Estado: As feridas já estão cicatrizadas? A senhora dividiu na sexta a mesma mesa com o Rui Falcão, que esteve em trincheiras opostas as da senhora no PT na década de 90.
Luiza Erundina: Isso foi uma das dificuldades, a relação do governo com o governo e com o partido no município. Quem era o presidente na época era o Rui Falcão. Nós tivemos muita dificuldade. Ele reconhece hoje, não publicamente, mas, particularmente, faz má autocrítica de que o partido poderia ter ajudado o governo e não ter criado tanta tensão como ocorreu naquele momento.

Estado: A sra. disse que é amiga da Marta e que vai tentar trazê-la para a campanha. O que explica a ausência dela? Ressentimento?
Luiza Erundina: Não tenho detalhes sobre o que aconteceu entre a Marta e o partido dela. Mas conheço muito a Marta. Ela é muito franca, inteira, fala exatamente aquilo que acha, sente. É uma pessoa que não tem meio-termo. Isso é um mérito e um valor dela. O governo dela deixou uma herança.

Estado: Líderes do PT já afirmaram que ela está cometendo um grave erro político. Está?
Luiza Erundina: Não faço esse julgamento político, sobretudo porque tenho a expectativa de que ela vai entender a necessidade de vir ajudar. Falar isso é julgá-la mais ainda.

Estado: O PT mudou ao chegar ao poder?
Luiza Erundina: Um partido de esquerda, com vocação socialista, que era o que eu entendia do PT quando estava no partido, quando chega ao poder tem dificuldade de conviver com os limites que existem nesse Estado. Ter que governar com outras forças políticas é mais complicado, mais difícil. O PT não é mais aquele de 30 anos atrás, com certeza, até pelo fato de participar da luta institucional nos marcos da política que existe hoje no País. Se explica que o PT, mesmo com o corte ideológico dos nossos partidos, tenha que fazer inflexões para sobreviver como governo.

Estado: A sra. está dizendo que o PT se tornou mais pragmático?
Luiza Erundina: Com certeza. Muito mais pragmático. Com o presidencialismo e uma minoria no Congresso você tem muito mais dificuldade de governar. Eu vivi isso na cidade de São Paulo. Governei quatro anos com minoria na Câmara dos Vereadores. Para ter maioria, teria que ter feito concessões. Eu preferi não ter maioria, não ter conseguido aprovar certas iniciativas de lei do que ter feito concessões. Mas aquilo pensado numa cidade talvez tenha sido menos difícil de administrar do que no âmbito do País.

Estado: O PT fez muitas concessões? Perdeu a coerência?
Luiza Erundina: Fez muitas concessões. Não diria de forma absoluta que perdeu a coerência. O programa partidário, por essas injunções da política institucional, da correlação de forças, teve que ser mudado. Até porque o partido faz suas análises a partir das suas experiências de governo. Tudo isso envolve tantas variáveis… É fácil julgar estando de fora dizendo que tal política é incoerente. Mas você não está dentro do espaço de decisão. Prefiro não julgar um partido em que não estou mais. Agora, com todas as críticas que a gente pode fazer aos governos do Lula e da Dilma, eles foram governos voltados para o interesse da maioria. Mesmo que isso tenha exigido certas concessões ao outro polo da sociedade. A política é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só.

Estado: Alianças com Sarney, Jader, Renan… Isso é bem real, não?
Luiza Erundina: É bem real. Quando penso num processo desses, a aliança maior que me mobiliza é a aliança com o povo. Os nossos governos federais, desde o primeiro governo Lula, teriam menos força no Congresso se houvesse uma aliança mais estratégica, orgânica e permanente com a sociedade civil organizada. Espero dar a minha contribuição chegando lá com o Haddad.

Estado: A sra. combateu o deputado Paulo Maluf durante parte muito importante de sua carreira política. Que avaliação a sra. faz da entrada dele na campanha?
Luiza Erundina: Foi uma decisão dos partidos que não passou nem passaria por mim. Provavelmente teria dificuldade de aceitar essa decisão. Meu partido deve ter sido consultado sobre isso. As responsabilidades de alianças são da direção nacional.

Estado: Tivesse sido consultada, diria ‘não’?
Luiza Erundina: Faria minhas ponderações. Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência.

Estado: A sra. foi surpreendida pelo apoio?
Luiza Erundina: Fui, quando o jornalista me mostrou uma mensagem eletrônica. Agora eu entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão. Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf. Não que eu tenha nada contra a pessoa dele. Inclusive a gente convive no Congresso numa boa. Ele sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa. A gente convive no mesmo espaço e tem que saber distinguir a pessoa daquilo que ela pensa e faz na política.

3 comentários:

  1. Repetido em todos os artigos porque além de cutucarem o mesmo tema, pela qualidade merecem:
    P1: Antes para zerar a questão de Erundina desfazer coligação com Haddad por causa de Maluf, é intriga da oposição, ela deixou claro que não porque nem precisam tirar fotos.
    Coincidentemente, em uma questão de oportunidade, destino, em meio a milhões de BLogs encontrei um de altíssima qualidade com o nome "Transparente como um Cristal vamos questionar!?", que coincidentemente como o prório nome anuncia, questionava a coligação PP, Maluf, PT haddad e Lula, e PPS luiza Erundina. Com foto de Paulo Maluf, Lula e Haddad juntos para o anúncio desta coligação, por Paulo Maluf.
    Cujo BLog entrei como em tantos outros para deixar meu comentário sobre tal coligação, porém este me surpreendeu tanto pelas coincidências que escrevi um aparte, algo muito pessoal, e nada a ver com religiosidade apesar do caso sim, no dia guardado à sete chaves e hoje aberto de repente, uma parte de minha caixa de pandora espalhou ao mundo minha seguinte decepção que, digo após o agradecimento da oportunidade de encontrar este blog dentre tantos:
    (Oportunidade divina, do divino, Deus mesmo. Eu encontrar um Blog com o nome do seu, contendo essa sua opinião de um artigo polêmico. E olha que não sou um religioso praticante, sou um espírita cristão que raramente ou quase nada praticante nesses derradeiros dias. Longe de ser um evangélico ou de qualquer radical religioso, apesar de nada contra desde que não façam mal a alguém.

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  2. P4: Antes de postar meu comentário sobre a coligação do artigo vou lhes contar o porque desta história de oportunidade divina, do divino, Deus.
    Foi algo que me aconteceu como se por encomenda da outra força, alguém que se dizia amigo meu, um mestre espírita, que só se prontificaria a me auxiliar em um momento delicado de minha vida assim que eu ficasse limpo, cristalino, como a um cristal igual ao nome do blog a que me refiro "Transparente como Cristal".
    e me lembrei de seu comentário, do autor(a) do Blog "Transparente como Cristal": Que foi: "Pois é, o IMPOSSÍVEL não é tão impossível, quando o lado "INVENDÍVEL" se vende !!!
    Lamentável, pra não dizer mais..."
    E lembrei do que pensei daquele que ele e outros o se diziam mestre, ordenado como tal, não por mim, mas por quem de direito e por direito assim o era, o tal.
    Me perguntei e pergunto até hoje. Que ser humano arrogantemente à Deus, se diria limpo "transparente" como um Cristal! E ainda cobrasse da humanidade que assim como ele, fosse?
    Grato, também ao leitor, por me permitir estas breves palavras sobre um assunto pessoal um tanto engasgado há Algum tempo. Espero que auxilie-me a limpar de vez o mal espiritual como mágoa, ou rancor, que ficou, tanto faz. Mal me fez, e à mim limpá-lo lucrei.
    Agora vamos ao porque estarmos aqui, digo, eu, ao que vim fazer. Postar um comentário que tenho postado em vários Blogs sobre esta coligação. Inclusive neste aqui em um outro artigo sobre o tema.

    " "O Galo Cantou Canto Certo"

    São Paulo forma a mais genial e eclética aliança política que sequer o maior dos gênios do marketing político poderia imaginar. O que naturalmente levará à vitoria da disputa eleitoral mais cobiçada do país, a prefeitura de São Paulo.
    São tantos acertos políticos em todas as suas áreas, que vai de costuras políticas em pequenos municípios, prefeitura de São Paulo em si, governo federal, aproximação definitiva e concreta do PSB com a aliança governista e, principalmente a demonstração de confiança total do PSB na Presidente Dilma.

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  3. P9: De onde naturalmente gerará maior aproximação e virão mais projetos para os estados comandados pelo PSB, e, mais ministérios para o partido.
    É de se admirar e repetir para acreditar, em uma estratégia política que seria racionalmente inimaginável, um golpe de sorte, mudar não só a vitória da disputa pela prefeitura de São Paulo, mas todo um quadro político nacional.
    Como se fosse um projeto planejado em universidades excepcionais como Federal de Juiz de Fora, UFRJ ou harvard, mas por algum político brasileiro conhecedor profundo de nossas mazelas.
    Como se fosse uma tese de doutorado, PHD, com o título, "Passo a passo para mudar a política brasileira de mãos para sempre" ou "Os novos rumos do Brasil" ou mais brilhante ainda
    "Brasil acordado em solo esplendido".
    Como para o PT no início das negociações para a campanha eleitoral de São Paulo perder o apoio de Kassab foi considerado uma derrota fatal.
    A surpresa da chegada da surpreendente Luíza Erudina (PSB) como vice de Haddad foi sensacional, e ainda como a cereja do bolo ganharam o apoio do cobiçado Paulo Maluf do PP paulista. Confirmando a derrota triplamente fatal, do Serra.
    Quanto à PSB, planejamento passo a passo em Harvard por quem conhece o Brasil a fundo, acho bom perguntarem a Ciro Gomes se ele teve algo a ver com toda essa reviravolta na política brasileira.
    Paro por aqui, porque sobre este tema há muito o que conjecturar. Em outra oportunidade volto à ele com prazer, e haverá, um tanto bom.
    José da Mota."

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