quinta-feira, 26 de março de 2015

Movimento propõe uma nova esquerda



DCI - 23/03/2015 - Diego Felix

Em sintonia com os rumos de uma política mais inclusiva e cidadã, grupo que conta com o apoio de Luiza Erundina quer trazer novos pontos para o debate da democracia

Insatisfeitos com o clima de "falta de esperança" na política nacional, o grupo político "Raiz Movimento Cidadanista", liderado pela deputada federal Luiza Erundina (PSB), pretende trazer um debate mais à esquerda contra o que chamam de "castas políticas".

O Raiz - que já foi chamado de Movimento Avante - quer seguir a linha adotada por partidos como o espanhol Podemos e o grego Syriza, que tratam a política de uma forma mais horizontal e com maior participação.

Um dos responsáveis pelo movimento é Célio Turino, ex-militante do PCdoB e ex-porta-voz da Rede Sustentabilidade em São Paulo.

Ao DCI, Célio disse que a ideia do movimento é construir bases sólidas nos estados e então partir para a busca de assinaturas necessárias para entrar com pedido de registro no TSE.

"Propomos ir à raiz dos problemas. A crise que vivemos vai exigir uma nova força política e queremos dar nossa contribuição nessa fase", diz.

Luiza Erundina, o nome de maior alcance dentro do movimento, afirma que não quer personalizar o partido para não descaracterizá-lo. A deputada vê na iniciativa um novo caminho para a esquerda brasileira, que já não se sustenta mais nos velhos paradigmas de sempre e precisa atrair jovens.

"Queremos uma mudança radical na cultura política e na forma como se organiza a política. Nossa proposta é de trazer a democracia direta, participativa, ao alcance de todos. O mundo está revolucionado e a esquerda não consegue acompanhar essa mudança", afirma.

O movimento, que será fundado no simbolismo do 1° de maio, conta com o apoio de cerca de 500 militantes, vindos do PSOL, PSB, PT e da Rede, organizados em 18 estados.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

MULHERES NO ESPAÇO DE PODER E DECISÃO




Falar em poder local é falar em Luiza Erundina de Sousa. Foi fazendo política inicialmente em sua terra, Campina Grande, na Paraíba, que conseguiu experiência para seguir em frente politicamente e chegar a ser prefeita de São Paulo, a maior cidade da América Latina. Ao longo de sua vida sempre se destacou na área social, principalmente quando foi morar em São Paulo, realizando trabalhos nas favelas da cidade. Erundina falou ao FÊMEA sobre a importância da experiência política local para a garantia de políticas públicas e dos direitos das mulheres.

Fêmea – Qual a importância, na sua avaliação, do poder local para a ascensão política e desenvolvimento da atividade política para as mulheres?

Luiza Erundina – Geralmente as mulheres iniciam sua experiência política nas comunidades locais, através dos movimentos reivindicativos em torno de demandas coletivas.
É aí que elas expressam e desenvolvem sua capacidade de liderança e descobrem seu papel político na sociedade.
Frequentemente evoluem da militância nos movimentos sociais para a militância político partidária ao tomarem consciência de que precisam conquistar poder para resolver os problemas e questões pelos quais lutam.
Além disso, descobrem a militância política como um meio de realização pessoal e como um instrumento a serviço da coletividade.
Daí decorre sua decisão de se filiarem a partidos políticos identificados com suas lutas e a se disporem a concorrer a mandatos eletivos, começando pelo legislativo municipal que é a instância de poder mais próxima de sua experiência de militância nos movimentos sociais nos quais constroem sua base de apoio e principal referência para o desempenho de seu mandato de vereadora.
Um bom desempenho nesse nível as credencia e as estimula a disputarem cargos de maior poder, como o de prefeita.
É no município, pois, que tem crescido a participação política das mulheres no plano institucional.

Fêmea – Como a senhora acha que as mulheres devem atuar no poder local para conquistar seus direitos?

Luiza Erundina – A atuação das mulheres, como vistas a conquistar seus direitos no nível do poder local, deve se dar através dos movimentos organizados em torno de reivindicações e demandas coletivas.
Além disso, poderão participar, como representantes de suas comunidades, dos espaços institucionais, tais como CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE, ASSISTÊNCIA SOCIAL, CONSELHOS TUTELARES E DE DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE, entre outros.

Fêmea – Na política qual a importância, na sua opinião, do poder local? Quais os ganhos que uma vereadora ou prefeita podem ter?

Luiza Erundina – O poder local tem importância decisiva na política, por ensejar o exercício da cidadania política a todos os cidadãos e cidadãs e viabilizar a participação e a democracia direta.
Um mandato de vereadora ou prefeita é um valioso instrumento de luta e de organização do povo, além de ser uma fatia de poder que, posta a serviço dos interesses populares, constitui uma possibilidade real de avanço na conquista dos direitos da população trabalhadora.

Fêmea – Como foi a sua experiência como vereadora e prefeita?

Luiza Erundina – Minha experiência como vereadora me preparou para conquistar e exercer o mandato de prefeita, além de ter servido como instrumento de organização dos setores populares.
O mandato de prefeita, por sua vez, foi uma extraordinária oportunidade de exercer o poder de forma feminina, pedagógica, procurando afirmar o papel da mulher como sujeito político, competente e capaz de mudar os paradigmas masculinos que tem marcado o exercício do poder em nossa sociedade.

Fêmea – Na sua avaliação as mulheres têm interesse no poder local? Elas se desenvolvem melhor politicamente sendo vereadora, prefeitas ou deputadas estaduais?

Luiza Erundina – O interesse das mulheres pelo poder local vem se manifestando pela participação crescente de mulheres que se candidatam e conquistam mandatos de vereadora, prefeitas e deputadas estaduais. Em qualquer desses cargos elas se destacam e se desenvolvem politicamente.
Há muito ainda a conquistar, mas estamos avançando!

CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria.

Março de 2001

Foto: Agência Câmara

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Erundina: “Uma mulher a mais nos espaços do poder é um homem a menos”




05/02/2015 – Revista Fórum - Anna Beatriz Anjos
Foto: Agência Câmara/Gustavo Lima

Uma das duas mulheres eleitas para compor a Mesa Diretora da Câmara no último domingo (1º), a deputada Luiza Erundina falou à Fórum sobre a articulação da bancada feminina para a próxima legislatura. Confira:

Fórum – Por que, na sua avaliação, o fortalecimento da bancada feminina e sua articulação para uma atuação mais específica nesta legislatura que se inicia são tão importantes?

Luiza Erundina - Essa questão tem sido sempre importante, porque a bancada ainda é pequena. Agora teve um aumento de mais 5 mulheres – éramos 46, agora somos 51 –, o que significa que essas novas mulheres não passaram pela experiência que as outras que se reelegeram passaram. Nós temos, neste momento, que integrar essas companheiras, inclusive com base nesta plataforma, e na construção de unidade entre nós. Nossa força e as poucas conquistas que temos se devem exatamente à articulação e à unidade que se constrói na Bancada, pelo menos em relação a determinadas questões.

Cada uma de nós, ou mais de uma de nós, é de diferentes partidos. Se já é difícil você construir unidade na bancada de um único partido, imagina construir unidade entre parlamentares de diferentes partidos. Mas as questões que interessam, como a de gênero, facilitam a construção da unidade, e isso acaba sendo um diferencial em relação inclusive às outras bancadas, que embora sejam mais numerosas, não têm atuado de forma unitária. A individualidade de cada mandato tem se exposto, e isso em todas as bancadas.

Na Bancada Feminina, temos conseguido construir essa unidade em torno de algumas propostas, de alguns projetos, e isso tem feito diferença e tem correspondido à condição para se conseguir algumas conquistas. Exemplo é a existência de uma Secretaria da Mulher, que no fundo substituiu a Coordenação da Mulher, só que agora com muito mais poder – participa das reuniões da Mesa Diretora, participa inclusive do espaço da tribuna, igual à qualquer líder. A secretária da Mulher hoje, na Câmara, tem direito a usar a palavra como qualquer líder.

São conquistas que a Bancada Feminina vem conseguindo ao longo dos anos por esse esforço de construção de unidade entre nós, apesar das diferenças. Essa é uma preocupação e uma estratégia que nós vamos adotar também nesta legislatura. Evidentemente, integrando as companheiras que estão chegando agora. Os temas são aqueles que sempre nortearam a nossa atuação: buscar mais espaço de poder para as mulheres; os direitos das mulheres em relação à questão de gênero ou então da saúde; o combate à violência, que é uma questão grave; a emancipação da mulher; direitos iguais na condição de trabalhadoras, não só para as parlamentares.

Nós temos procurado – e essa é uma questão em que vou me empenhar – uma maior articulação com os movimentos de mulheres, que já foi mais forte no passado. Há umas duas legislaturas, havia muito mais articulação entre a Bancada e os movimentos de mulheres, as entidades feministas. Isso reforçava a atuação da Bancada, e a Bancada se tornava canal, ferramenta a serviço das demandas desses movimentos. Isso, por exemplo, é um questão que vou retomar para que faça parte da estratégia, da agenda e da preocupação da Bancada. Exatamente articular-se com os movimentos de mulheres e atuar junto a elas. Por exemplo, quando da definição anual do Orçamento, se fazer uma ação articulada com as entidades para conseguir recursos de maior vulto destinados a programas que interessem diretamente às mulheres.

Fórum - Segundo a plataforma de atuação, uma das prioridades da bancada é fazer com que a PEC 590/06, de autoria da senhora, seja apreciada. Por que acha que isso não ocorreu até o momento?

Erundina - Exatamente pela correlação de forças desfavorável a nós. Em geral, a presidência e a Mesa Diretora da Câmara são constituídas por maioria de homens. Não interessa a eles ampliar a participação das mulheres nos espaços de poder da Casa, porque isso significa diminuir o poder deles, embora as proporções sejam extremamente díspares – agora somos 10%, com mais 5 mulheres que entram na Bancada. Mas temos sido menos de 9% esse tempo todo. É uma proposta de 2006, já passou por uma comissão especial, foi aprovada por unanimidade por ela, e o presidente da Câmara e o colégio de líderes não pautam essa matéria.

As poucas vezes em que veio para pauta, ainda na época de Michel Temer como presidente da Casa, ela não foi votada, sofre muita resistência. A correlação de forças com uma hegemonia absoluta dos homens parlamentares em relação às mulheres explica o fato de a gente não conseguir garantir esse direito. Por exemplo, estou na Mesa Diretora como terceira suplente. De toda a bancada, só tem eu e a Mara Grabrilli, que está em uma secretaria. Ela é um cargo efetivo, eu sou suplente. Isso exatamante porque não somos vistas pela maioria de homens como tendo direito, sobretudo aos espaços de poder. Afinal, são eles que nos dão poder para inclusive garantir outros direitos. Por exemplo, se nós tivéssemos mais poder, as políticas públicas de interesse das mulheres com certeza seriam melhor contempladas do que têm sido.

Portanto, é uma luta permanente, muito desigual, que exige uma perseverança, uma persistência, uma determinação que não nos tem faltado, mas mesmo assim as conquistas são muito pequenas. Eu não gostaria de estar na Mesa, mesmo como suplemente. Preferia que isso tivesse vindo por indicação da Bancada Feminina, e não como representante de uma bancada – nós conseguimos que uma mulher da nossa bancada ocupasse aquela vaga pela proporcionalidade que cabe ao partido. E a maioria é de homens também – somos seis mulheres em 34 deputados –, e conseguimos a adesão de todos. Foi unânime a indicação do meu nome para ocupar essa vaga dentro do proporcionalidade que cabe ao PSB.

Eu, como mulher, as mulheres do PSB e as mulheres da Bancada Feminina, no geral, estarão representadas no meu mandato na Mesa, como terceira suplemente. Já a deputada Mara está em uma secretaria, tem muito mais poder. Então, nossos espaços são conquistados a duras penas e desproporcionalmente ao que é ocupado pela imensa maioria de homens. Isso nos leva a questionar o discurso que se ouve sobretudo nas datas que têm relação com nós mulheres – 8 de março e outras. Já denunciei isso na tribuna. Não adianta fazer discurso pela igualdade de gênero, porque na prática eles não contribuem para isso. Uma mulher a mais nos espaços do poder é um homem a menos, embora eles sejam, hoje, 90%.

Fórum – Com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, e diante do atual Congresso, considerado o mais conservador desde a ditadura militar, qual a perspectiva de avanço nos direitos das mulheres nos próximos anos?

Erundina – Depende do quanto a gente conseguir mobilizar a sociedade, os movimentos de mulheres e feministas, até por conta dessa condição desfavorável da correlação de forças da Casa. Considero que essa é uma legislatura com uma composição mais conservadora, de pessoas que não têm compromisso com mudança, avanços e modernidade. Nesse sentido, sou pessimista; acho que, em vez de se avançar, temo que se retroceda, que se comprometam conquistas importantes, mas, ao mesmo tempo, mudanças, conquistas e preservação de direitos você consegue com força política, e essa força política a gente constrói na relação com a sociedade, não no âmbito das instituições, porque elas são muito bitoladas, não têm uma dinâmica transformadora – muito pelo contrário.

Por isso que afirmo que pelo menos o meu empenho, minha dedicação, minha atuação na Bancada Feminina terá como foco essa articulação com a sociedade civil organizada, sobretudo a relação com as entidades de mulheres. Com isso, a gente pode compensar as desvantagens, os retrocessos e o perfil da atual legislatura, e da atua direção da Casa.

Foto: Agência Câmara

domingo, 25 de janeiro de 2015

Saudação a São Paulo



Parabéns São Paulo pelos teus 461 anos de história!


Admirável história que se escreve, dia após dia, pelos milhões de cidadãos e cidadãs que aqui nasceram ou que para cá vieram e cujas raízes estão plantadas nos mais longínquos rincões do Brasil e do mundo.

É uma oportunidade para se resgatar a memória dos feitos históricos de seu povo no passado e de refletir sobre seus impasses no presente, com os olhos voltados para seu futuro.

A metrópole deste começo de século tem seus alicerces na vila dos jesuítas, fundada em 25 de janeiro de 1554, quando os padres da Companhia de Jesus, entre eles José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, construíram, onde é hoje, o Pátio do Colégio, um barracão de taipa para ensinar o catecismo e as primeiras letras aos índios e aos filhos dos colonizadores.

O núcleo inicial se transformou na “Cidade dos Bandeirantes” em referência às “Bandeiras” que, sob o comando dos paulistas, rasgaram o interior do Brasil, definindo, assim, a história e os destinos da Colônia nos séculos 17 e 18.

Nas primeiras décadas do século passado, São Paulo transformou-se na principal metrópole brasileira, na condição de capital do café. Com o processo de industrialização e urbanização do Brasil, a partir de 1930, passou a ser o maior pólo industrial do país.

É, pois, uma grandiosa história de lutas e conquistas, escrita pelas sucessivas gerações que constroem São Paulo, a cidade dos mil povos. Devemos honrar o legado que as gerações passadas nos deixaram, construindo, no presente, uma cidade justa e democrática, onde todos e todas tenham direito a ela e onde lhes seja assegurado o pleno exercício de cidadania.

Para tanto, e pela vontade e ação coletiva de seus habitantes, deve se transformar num espaço de convivência solidária, em que o direito de todos à dignidade e à vida urbana se sobreponha à liberdade absoluta de alguns que dela se apropriam como objeto de especulação e de lucro.

Demandas e soluções contraditórias se colocam todo dia para o governo da cidade, e precisam ser administradas no interesse da maioria e com a participação e o controle da sociedade civil organizada, o que supõe a existência de mecanismos de aproximação povo/governo.

É evidente que as causas e possíveis soluções para os problemas que a cidade enfrente não estão apenas no âmbito do poder municipal e de suas competências institucionais, cabendo parte da responsabilidade aos outros dois níveis de governo: o estadual e o federal. Contudo, o município de São Paulo conta com o terceiro maior orçamento do país, que, administrado com competência, inversão de prioridades, criatividade e, sobretudo, com ética, poderá contribuir para solucionar ou, pelo menos, atenuar parte dos problemas que afetam, sobretudo, a população trabalhadora.

Ao te saudar, São Paulo, pelo teu aniversário, desejo que o direito à cidade seja assegurado a todos os cidadãos e cidadãs que aqui vivem e te constroem como um patrimônio comum.

Luiza Erundina de Sousa, ex-prefeita de São Paulo e deputada federal

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Devemos resgatar a dignidade da política


 No dia 1º de fevereiro deste ano, estaremos assumindo mais um mandato parlamentar conferido democraticamente pelo povo nas últimas eleições.

O que pensará o povo brasileiro a respeito de seus representantes que acabou de eleger?  Pelos comentários que se ouvem, é que somos uns oportunistas, carreiristas, arrivistas e descomprometidos com as promessas que fazemos durante as campanhas eleitorais.

O mais grave disso é que esse conceito negativo é generalizado, se aplica a todos,  tal é a indignação popular com as reiteradas traições que ocorrem após as sucessivas eleições e no curso dos mandatos, tanto no Legislativo como  no Executivo.

O que fazermos, então, para responder e, se possível, desfazer essa imagem dos que nos avaliam de forma tão depreciativa?

Precisamos, antes de tudo, recuperar a confiança do povo e resgatar a dignidade da política, nos insurgindo contra o toma lá da cá do fisiologismo e do favoritismo político nas relações entre os Poderes, e afirmar, na prática, a independência entre eles. Certamente é isso que o povo espera de seus representantes.

Lamentavelmente, já começamos o mandato dando motivo para nos lançarem a pecha de legislarmos em interesse próprio, indiferentes às enormes dificuldades da população. Refiro-me ao fato de deputados e senadores iniciarmos os mandatos com um aumento abusivo dos nossos subsídios, por decisão do Congresso Nacional numa das últimas sessões da legislatura anterior, sem que a sociedade, que é quem paga a conta, tivesse conhecimento. Isso sempre ocorre no final de cada legislatura.

No sentido de coibir tal prática, apresentei o Projeto de Lei nº 55, de 2011, que institui o referendo popular obrigatório para a fixação dos subsídios do Presidente da República e dos membros do Congresso Nacional.

Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito, onde todo o poder emana do povo (art. 1º e seu parágrafo único), em Estados dessa natureza, os agentes políticos eleitos pelo povo não têm legitimidade para fixar, sem o consentimento do povo que os elegeu, as condições de sua relação subordinada ao soberano, em especial o montante dos subsídios a que fazem jus pelo exercício desse cargo público.

A Constituição Federal determinou, em seu art. 14, II, que a soberania popular é exercida, entre outros instrumentos, por meio de referendo. Trata-se da aprovação, dada pelo povo, a atos dos órgãos estatais e agentes públicos, notadamente as leis votadas pelo Congresso Nacional.

Assim, o referido projeto, ao tornar obrigatório o referendo popular em matéria de fixação de subsídios do chefe do Poder Executivo e dos integrantes do Congresso Nacional, dá pleno cumprimento ao princípio democrático que fundamenta a nossa ordem constitucional.

Infelizmente, o projeto foi rejeitado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, o que nos levou a apresentar Recurso à Comissão de Constituição e Justiça contra a decisão, onde se encontra, até hoje, aguardando a designação de um relator.

São fatos como esse que levam ao descrédito do povo em relação aos seus representantes e para a perda de legitimidade das nossas instituições políticas, em especial do Poder Legislativo, ao mesmo tempo em que contribuem para o enfraquecimento da democracia.

Ao assumirmos, pois, o mandato que o povo brasileiro nos confiou, renovamos o compromisso de honrar o voto popular e de exercê-lo com ética e dedicação, resgatando, assim, a dignidade da política.

                                                 Dep. Luiza Erundina de Sousa
                                                   

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Reeleita, deputada federal desabafa sobre a classe da qual faz parte e não aposta mais nem em reforma política




Luiza Erundina desabafa sobre o Congresso e a prática política 

PUBLICADO EM 21/01/15 - 04h01 IG- MG / Jornal O Tempo BH

Ricardo Corrêa e Lucas Ragazzi

Luiza Erundina, eleita em outubro do ano passado para seu quinto mandato consecutivo de deputada federal, nem parece uma representante do Congresso que tomará posse. Suas palavras assemelham-se muito mais às que ouvimos por aí, nas rodas de conversa, nos protestos e entre aqueles que têm horror à política. Desanimada com os rumos de seu próprio partido e da classe da qual faz parte, ela resume de forma dura: “Nós do PSB não representamos mais nada. E esse próximo Congresso não representa mais nada. Que grau de legitimidade, de representatividade que tem, se nós já assumimos deixando uma dívida, mais uma, para a sociedade? Nossos honorários foram majorados de forma absurda. Um aumento sem nenhuma consideração ao momento que o país vive, de crise, de cortes, de contenção de gastos. E ainda aprovado no final da legislatura sem qualquer discussão”.
Erundina, que participa das discussões para a criação do Avante!, novo partido que contaria com a presença de lideranças dissidentes da Rede, de Marina Silva, não aposta nem mais na reforma política. “Militei por mais de 15 anos pela reforma política. Mas agora eu vejo que tentar reformar, remendar esse tecido desgastado, poluído, só vai aumentar o problema. Nós temos é que reorientar o sistema político. Não é mudar a eleição, é algo que tem que começar de fora, da sociedade”.
Para Erundina, a saída não está pronta, mas passa por estabelecer “uma relação horizontal, verdadeiramente democrática, diferente do que existe hoje nos partidos. 
“É preciso refazer o conceito de poder que emana do povo. Esse poder não pode ser apropriado por qualquer um, ignorando a sociedade”, desabafa.

Leia outros trechos da conversa:

Relação com o PSB, seu partido
"O desgaste não é de hoje. Já é desde o segundo turno das eleições. Eu era da Executiva Nacional do partido e me afastei quando houve o apoio ao Aécio (Neves). Por uma questão política, e não pessoal. Questão de projeto político. Primeiro com o Eduardo Campos e depois com a Marina (Silva) como candidatos, o discurso era de romper com a polarização entre PSDB e PT. O mais coerente então era liberar a militância para que os eleitores tomassem uma decisão e não tomar uma postura de apoio ao Aécio, de fazer campanha. Isso contradisse completamente o discurso. Deixamos de ser a terceira via e passamos a ser a segunda via. E, para mim, política é coerência".

Situação atual
"De lá para cá, as coisas têm caminhado de forma diferente do que era esperado. A formação daquele bloco mesmo com PSB, PPS, PV, PSB e Solidariedade, por exemplo, foi feita sem nenhuma discussão. Nem com a bancada propriamente dita. Já estão articulando candidatura à Prefeitura de São Paulo, sem debate. Então é uma situação muito complicada. Não é pessoal, nem de momento. Eu já venho reagindo, eu reajo a essas candidaturas, a essas alianças. Aí o Júlio Delgado (MG) assume a liderança do partido no lugar do Beto Albuquerque (RS) e vai ser candidato à Presidência da Câmara e nada disso foi discutido. A discussão, se foi feita, foi com outros partidos. Essas práticas que terminam desmerecendo, descaracterizando um partido que era alternativa nesse quadro de pluripartidarismo. Era uma alternativa na relação com os outros partidos, no protagonismo, uma alternativa para a sociedade".

Aumento de salários
"Eu tenho um projeto de lei desde 2011 que exige que aumento de salários, de honorários dos parlamentares, tenha que passar por um referendo, mas pergunta se já saiu da gaveta. Não sai. Não querem mudar nada. É simples. E é por isso que a sociedade não dá mais credibilidade à classe política. Pena que eu não tenho espaço, pois não sou líder, não sou nada. A dinâmica de discussões tira esse espaço perante aqueles que comandam os partidos".

A saída para o descrédito
"Não é uma saída que está pronta. Estamos em uma cultura política, uma prática política cheia de hábitos, vícios, reproduzidos em escala de tempo que não dão condição de fazer mudanças. É preciso incentivar os movimentos de massa, como as manifestações de 2013. Não acabou. Simplesmente não houve um canal para que exprimisse suas ideias. Não havia um candidato, uma alternativa. Olhe o índice de abstenção, de votos nulos, brancos. Isso é um sinal. Assusta o desinteresse pelo debate político. Acho que chegamos ao fundo do poço. Sabe quando você chega em um ponto que não tem mais poço para descer? Quem sabe isso pode ser o momento de dar um passo na direção certa?".

O novo partido
"Há um início de articulação, sem presidente, sem preocupação com fundo partidário, com poder institucional. Apenas com uma crítica contundente ao sistema político. A questão é com o povo. Sem o povo não muda nada. Personalismo não ajuda. Tem que estabelecer uma relação horizontal, verdadeiramente democrática, diferente do que existe hoje nos partidos, que são fechados. Sem a disputa interna de poder. É preciso refazer o conceito de poder, que emana do povo e não pode ser apropriado por qualquer um, ignorando os anseios da sociedade. Hoje as alianças não respeitam a soberania popular. Com as coligações, o cidadão vota em um e elege o outro que não sabe quem é".

Reforma política
"Não acredito mais. Em 15 anos na Câmara eu militei, fui ativista da reforma política. Mas tentar reformar esse tecido desgastado, poluído, só vai aumentar o problema. Nós temos é que reorientar o sistema político. Não é mudar a eleição, é algo que tem que começar de fora, da sociedade. A mudança, a novidade, só virá de fora para dentro".