segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Erundina, a primeira prefeita de São Paulo



*Entrevista Revista Free São Paulo_Março de 2012

A deputada Luiza Erundina admite a possibilidade de voltar a governar a cidade de São Paulo. Mas antes disso, com Congresso Nacional, ela luta pela ampliação da participação da mulher na política.

Em 1988, Luiza Erundina de Sousa recebeu dos paulistanos 1.534,592 votos e foi eleita a primeira prefeita de São Paulo, pelo PT. Vinte e quatro anos depois, exercendo o quarto mandato como deputada federal (agora no PSB), esta paraibana de Uiraúna está mais viva que nunca na política.

Na Câmara, vem se destacando na luta pela ampliação da participação da mulher na política. Ela também coordena três frentes parlamentares: pela reforma política, pela liberdade de expressão e o direito à comunicação, e em defesa do voto aberto no plenário.

Mas será que Erundina ainda sonha em retornar à prefeitura de São Paulo? À Revista Free São Paulo ela disse que não se trata de sonho, mas também não descartou a possibilidade, mesmo estando hoje com 77 anos de idade.

A senhora ainda sonha em ser prefeita de São Paulo?

- A política em minha vida nunca teve essa questão de sonho. Ser vereadora, depois deputada estadual, posteriormente prefeita e deputada federal não trata-se de sonhos. Minha participação na política vem se dando no curso da minha trajetória. Agora, não penso e nem deixo de admitir a possibilidade de, novamente, ser prefeita de São Paulo, mas não é um projeto, muito embora me sinto mais preparada que em 1988 quando fui eleita. O que me mantém ativa é a política, não necessariamente a disputa de uma eleição. A política é, pra mim, uma opção de vida e quero sempre colaborar com a construção da nação.

Hoje a política é, mais que nunca, feita de alianças. A senhora concorda com o modo de como essas alianças vêm sendo “costuradas”?

- Tenho grandes dificuldades de entender certas alianças, em imaginar operar projetos com forças tão antagônicas. Tenho dificuldades de aceitar o pragmatismo, algo que é muito ruim, pois desqualifica a política e distancia a juventude. Não concordo com a aliança pela aliança. Se existem partidos distintos, obviamente teremos projetos distintos, mas para se fazer uma aliança eles têm que ter, pelo menos, uma identidade ideológica, política e programática. Sem isso, tenho muitas dificuldades em aceitá-las.

E como ficará a situação do seu partido, o PSB, em São Paulo?


- Pois é rapaz. Não estou participando da discussão, apenas aguardando uma posição. Venho acompanhando tudo pela imprensa. O presidente nacional do PSB [governador de Pernambuco, Eduardo Campos] vem sinalizando com Lula e Dilma e se mostra mais inclinado na composição para apoiar Fernando Haddad [pré-candidato petista à prefeitura de São Paulo]. Já a direção municipal paulista, que tem como presidente Márcio França, secretário de Turismo do governo Alckmin, vem se antecipando à nacional e demonstrando fechar com o PSDB. Até fiquei sabendo que Eduardo Campos estaria em São Paulo prometendo uma intervenção no PSB paulista por conta dessas posições.

E qual vai ser a sua posição?

Me sentiria mais confortável em participar de um campo de forças de partidos tidos de esquerda como PT, PC do B, e o próprio PDT, por exemplo. Em um campo assim me sentiria mais vinculada que no outro campo. Mas estou aguardando o partido.
 
A senhora foi a primeira prefeita de São Paulo, ao ser eleita pelo PT. Sofreu mais discriminação por ser mulher ou por ser nordestina?

As duas coisas, mas muito mais por ser nordestina. Ser nordestino traz uma marca de preconceito muito forte, mais do que ser mulher, pois com trabalho e liderança essa questão de gênero fica minimizada. Minha condição de nordestina se somava à condição de mulher de esquerda (na época eu estava no PT), e essa mistura engrossava o caldo do preconceito. Só faltava eu ser negra. Mas sempre encarei o preconceito como motivo de luta, de combate.

Quando a senhora disse que “era mulher de esquerda”, enfatizou que na época estava no PT. Faz tempo que, na sua opinião, o PT deixou de ser um partido de esquerda?

O PT, assim como o PSB, tem pessoas que são de esquerda, que não mudaram os seus princípios, os valores e os métodos de prática política. São pessoas fiéis ao seu compromisso histórico. Mas, lamentavelmente, os projetos políticos estão completamente descaracterizados. O PT não é mais de esquerda, muito menos o meu partido.

Em Brasília, a senhora vem se destacando na luta pela ampliação da participação da mulher na política. Ainda é necessário travar uma luta com essa bandeira? Existe ainda muito a conquistar?

Muito a se conquistar, muito a se batalhar. A participação da mulher na política no Brasil está atrás de países com a África do Sul e Moçambique, países bem distantes da gente em níveis político, econômico e histórico. Este mês, o comitê da ONU que combate a discriminação contra a mulher se reuniu em Genebra e fez uma cobrança pública ao Brasil. Na Câmara, nós mulheres, somos apenas 8,77%, isso depois de 80 anos do voto feminino.

E como a não-participação ativa da mulher na política reflete na sociedade?

Isso é muito ruim para a sociedade. Sem a participação efetiva da mulher não temos a democracia política plena no País. Continuamos na lanterninha com relação a avanços nesta área.

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