quinta-feira, 29 de maio de 2014

Luiza Erundina cobra providências para esclarecer morte de Anísio Teixeira





 
Erundina diz que é preciso ir além daquilo que já está acumulado
 

Em audiência pública para discutir as circunstâncias da morte de Anísio Teixeira, nesta quarta-feira (28), a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) cobrou providências concretas para o esclarecimento do caso. “Esse debate me deixou consciente do quanto estamos devendo à sociedade, precisamos ir além daquilo que os familiares e pesquisadores já acumularam”, sustentou.

Anísio Teixeira, teórico da educação e um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB), morreu em março de 1971, no Rio de Janeiro. À época, a polícia disse tratar-se de acidente. Segundo o inquérito oficial, o intelectual caiu no fosso do elevador do prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, com quem deveria almoçar naquele ocasião.

Contradições - A história, no entanto, como reafirmaram os participantes do evento promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e por sua Subcomissão Verdade, Memória e Justiça, tem muitas contradições. Todos destacaram que, entre o elevador e o fosso, havia vigas com menos de um metro de distância uma da outra, de modo que não teria como alguém cair até o fundo. O corpo foi encontrado sentado, e não havia marcas nas vigas, segundo disseram.

Carlos Antônio Teixeira, filho do educador, relatou também que o pai não foi visto por ninguém no prédio, uma quinta-feira pela manhã, quando, além do porteiro, deveria haver pedreiros no edifício, que passava por reforma. O corpo só apareceu no sábado, mais de 72 horas depois, portanto. Nesse intervalo, ninguém no prédio percebeu nada relacionado ao ocorrido, disse Carlos Antônio.

Série de atentados - Na opinião do ex-preso político e ex-deputado federal Haroldo Borges Rodrigues Lima, Anísio Teixeira pode ter sido assassinado pelos militares, como parte de um possível plano do Brigadeiro João Paulo Burnier. Segundo Haroldo Lima, além de uma série de atentados terroristas, que seriam atribuídos à esquerda, esse projeto incluiria a morte de 40 intelectuais, considerados inimigos do regime.

De todos esses alvos, segundo ele, somente cinco tiveram os nomes conhecidos. Nada impede, para o ex-deputado, que Teixeira fosse um deles. Ele lembrou que, no início de 1971, ocorreu o desaparecimento de Rubens Paiva e, quatro meses depois, de Stuart Angel, ambos relacionados à Aeronáutica. “Exatamente entre um caso e outro, veio a morte de Anísio Teixeira”, ressaltou.

Depois de encontrado, o corpo de Teixeira foi imediatamente levado para o necrotério, sem perícia no local. Os militares alegaram que ele foi confundido com um oficial da Marinha, que teria se suicidado em um prédio das imediações no mesmo dia.

Lacuna - Esse é outro fato que intriga os participantes da audiência. Conforme ressaltou o professor da Universidade Federal da Bahia e biógrafo de Anísio Teixeira, João Augusto de Lima Rocha, o corpo do oficial suicida nunca apareceu, e o caixão do intelectual foi entregue fechado à família e não foi aberto.

Rocha disse ainda que o então senador da Arena Luiz Viana contou a ele ter ouvido de generais que Anísio Teixeira estava detido na Aeronáutica. Amigo de Teixeira, Afrânio Coutinho também tinha suspeita de que fora sequestrado, acrescentou.

Coutinho teria, inclusive, registrado em um documento tudo que sabia sobre o caso. Esse texto teria sido entregue à Academia Brasileira de Letras (ABL) para ser aberto apenas em 50 anos, em 2021. Mas, segundo o biógrafo, na ABL disseram que ninguém sabe desse documento.
Acesso - Luiza Erundina vai requisitar o acesso ao relato de Coutinho à academia com base na Lei de Acesso à Informação (12.527/11). A norma obriga todas as instituições a liberar papeis relacionados à violação de direitos humanos. Para a deputada, a comissão “tem de ver esse documento para chegar o mais possível próximo da verdade agora, não em 2021, isso seria um absurdo”.

Erundina defende também a exumação do corpo de Anísio Teixeira. “Se os familiares concordarem, claro, e com um plano claro de trabalho, isso seria importante para a gente saber se houve troca do caixão ou não”, sustentou.

Texto e foto: Agência Câmara - 28/05/2014

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